Dengue: qual é o tratamento?
O tratamento ambulatorial da dengue consiste em melhorar os sintomas e prevenir as complicações. Analgésicos e antieméticos (como dipirona e metoclopramida, respectivamente) são prescritos de rotina. A hidratação vigorosa é essencial para manter a volemia (o volume total de sangue nos vasos) dentro do normal, na tentativa de compensar o vazamento de plasma (tenho outro texto em que explico sobre isso, aqui).
É essencial se manter hidratado e ficar ligado nos sinais de alarme da dengue. O Ministério da Saúde recomenda a ingestão diária de 80ml/kg/dia de líquidos. Em uma pessoa pequena de 50 kg, isso daria 4 litros de água. Se uma pessoa fica acordada por 16h por dia, daria 500mL de água a cada 2 horas. Entendo que é uma medida difícil de executar, principalmente considerando que na dengue são comuns náuseas e vômitos. Uma ingestão mais moderada (como 2 litros de líquidos, além da água contida nos alimentos), possivelmente já é suficiente. O Ministério recomenda o soro caseiro, embora exista evidência de que as pessoas fazem um preparo muito concentrado que pode desidratar ainda mais. Portanto, não o indico formalmente.
Quais são esses sinais de alarme?
Os sinais de alarme da dengue, conforme estabelecido pela OMS (2009), incluem:
• Alteração de consciência (como sonolência, confusão mental, agitação);
• acúmulo de fluidos, como ascite e derrame pleural (por vezes assintomáticos, por vezes causando aumento do volume abdominal e falta de ar, respectivamente);
• vômitos persistentes;
• sangramento de mucosas (que pode ser leve, como um sangramento na boca ou de nariz);
• dor abdominal (embora seja um sintoma comum, geralmente consideramos preocupante quando é forte e contínua);
• hepatomegalia (aumento do fígado, geralmente avaliado no exame físico);
• aumento do hematócrito com queda de plaquetas (o que seria detectado no paciente que está fazendo hemogramas consecutivos para acompanhamento).
Embora não inclusos na classificação da OMS, sinais de desidratação (incluindo pele tensa, olho fundo, boca seca, sede persistente e diminuição significativa do volume de urina) devem servir de alerta para que o paciente retorne ao serviço e seja reavaliado.
A presença de qualquer um desses sinais ou sintomas justifica uma visita urgente ao pronto-socorro e, geralmente, indicamos internação hospitalar para esses pacientes.
Dengue mata?
Mata, sim. Em 2021, morreram 246 pessoas pela doença no Brasil¹. Esse número é insignificante quando comparamos com o número de mortes por tuberculose, Covid-19 e pneumonia bacteriana, ainda mais se considerarmos que moramos num país com mais de 200 milhões de habitantes. É claro que, para quem está doente, a possibilidade de evoluir para uma forma grave é uma preocupação importante. Oriento, geralmente, que óbitos por dengue acontecem apesar de serem incomuns, e com isso reforço a importância de se manter hidratado e atentar-se aos sinais de alarme.
É verdade que a dengue hemorrágica acontece só na segunda vez que se pega dengue?
Na vasta maioria das vezes, sim! Isso sugere fortemente que as formas graves da dengue acontecem por um mecanismo mais imunológico do que relacionado à atividade do vírus em si. Casos de dengue hemorrágica na primeira infecção estão bem documentados, embora isso seja a exceção.
Existe algum remédio para subir as plaquetas?
Muitos alimentos são propagandeados por supostamente melhorarem a evolução da dengue. O suco de inhame é citado com frequência. Se você tomá-lo, a dengue dura sete dias. Se não tomá-lo, dura uma semana. Brincadeiras à parte, o fato é que se trata de uma infecção viral (tal como um resfriado ou a maioria das diarreias), e nenhuma medicação teve sua eficácia comprovada quanto a diminuir a replicação viral ou a ação do vírus a nível celular.
O que fazer para melhorar a fadiga?
Não há tratamento para fadiga. Eu geralmente oriento medidas para conservar energia (pedir ajuda das pessoas da casa, dividir as tarefas ao longo do dia, etc). O retorno precoce ao trabalho e a prática de atividades físicas, conforme tolerado, é muito positivo. A sabedoria popular que diz que "quanto menos você faz, mais preguiçoso fica" é válida. É essencial lembrar que vitaminas não são substâncias que por si melhoram a disposição ou o humor; portanto, não devem ser utilizadas com essa finalidade.
É necessário fazer repouso?
Não. A recomendação de repouso acontece muito, parece-me, como forma de esclarecer ao paciente que a fadiga, por vezes grave, é esperada e que isso não depende do controle dele.
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